quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

JN noticia uma tentativa de rapto que nunca aconteceu


O meu pai foi durante muitos e bons anos correspondente do “Jornal de Noticias”, aí conheci muitos jornalistas, com letra grande, como por exemplo, só para recordar um, o meu bom amigo Costa Carvalho .

Percorri, ainda puto o grande edifício do JN e a cada visita ficava assombrado com as mastodonticas bobines de papel que alimentavam as rotativas.
Hoje recordo com nostalgia esses tempos, o tempo dos Grandes Jornalistas, dos jornalistas que confirmavam as noticias e do tempo em que os jornalistas se orgulhavam de ver, em cada noticia, o seu nome.
Vem isto a propósito de uma notícia, com honras de primeira página, que dava conta que “os irmãos e a mãe de uma menina de quatro anos terão evitado, anteontem, o seu sequestro, presumivelmente tentado por um indivíduo em pleno centro da cidade do Porto”.
Tenho hoje a certeza que o jornalista, menos avisado, embarcou na história assim como, ao que parece, uma televisão.
Segundo aquele Jornal “o suspeito ainda agarrou a criança e tentou introduzi-la dentro do carro, cheio de bonecos de peluche, mas o alerta de um dos seus irmãos, de 12 anos, bem como a intervenção da irmã mais velha, de 18, inviabilizaram a fuga. O homem acabou detido pela PSP e entregue à PJ. "Esteve à tarde a rondar a zona e perguntou à minha filha como ela se chamava, dizendo-lhe que é muito bonita", explicou, ao JN, a mãe, Maria Conceição Ferreira, 47 anos, proprietária de um restaurante na zona, revoltada com a situação e o facto de o homem, de cerca de 40 anos e origem asiática, ter sido libertado pelo Tribunal de Instrução Criminal do Porto.”(clique para continuar a ler)
O asiático em causa é um cidadão que pertencente à prestigiada comunidade chinesa e trata-se de um pacato cozinheiro que trabalha num restaurante daquela área. É aliás empregado no restaurante cujo proprietário é o presidente da Liga dos Chineses em Portugal (LCP), Y Ping Chow.

Não era difícil, dadas as referências, confirmar a noticia. Não se tratava, propriamente, do "homem do saco".
Voltando á noticia é falso que o cidadão chinês tenha agarrado a criança ou a tenha tentado introduzir no carro, assim como é falso que tenha andado a rondar, durante o dia, a zona. Na verdade a infeliz vítima, da ignorância, trabalha na zona.
Nesse dia, o cozinheiro, esteve apenas duas vezes no exterior do restaurante, uma pela manhã, acompanhado por um colega outra pelas 22horas quando foi, literalmente, “assaltado” por duas mulheres.
Ao contrário do que vem referido na notícia, o carro conduzido pelo cidadão chinês não tem, nem tinha, no seu interior qualquer boneco de peluche nem se tentou justificar perante quem quer que fosse.

Aliás as autoridades cedo verificaram o erro foi no entanto tarde demais para o infeliz cidadão chinês que ainda passou a noite detido.
Notícias como estas servem para promover "doentes" e contribuem para o aumento do racismo e da xenofobia.
Espero que os jornalistas fiquem atentos quando o cidadão chinês for objecto de um desagravo que necessariamente, pelo que me já confirmaram, será conseguido pela via judicial.


P.S. Não convidem o Moita Flores a comentar

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